José Bezerra da Silva (Recife, 23 de fevereiro de 1927Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2005) foi um cantor, compositor, violonista, percussionista e intérprete brasileiro dos gêneros musicais coco e samba, em especial de partido-alto.[1]

Bezerra da Silva
Bezerra da Silva
Informação geral
Nome completo José Bezerra da Silva
Também conhecido(a) como "Embaixador dos Morros e Favelas"
Voz do Morro
Nascimento 23 de fevereiro de 1927
Local de nascimento Recife, PE
Brasil
Morte 17 de janeiro de 2005 (77 anos)
Local de morte Rio de Janeiro, RJ
Brasil
Gênero(s)
Instrumento(s)
Período em atividade 19592005
Outras ocupações
Gravadora(s)
Afiliação(ões)

No princípio, dedicava-se principalmente ao coco até se transformar em um dos principais expoentes do samba nos anos seguintes.[2] Através do samba, cantou os problemas sociais das favelas e da população marginalizada, atuando ente marginalidade e indústria musical. Estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da Rede Globo, sendo um dos poucos partideiros que lia partituras.[3]

Gravou seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro disco em 1975, de um total de 28 álbuns lançados em toda a carreira que, somados, venderam mais de 3 milhões de cópias.[3] Ganhou 11 discos de ouro, 3 de platina e 1 de platina duplo.[4] Apesar de ter sido um dos artistas mais populares do Brasil, foi bastante ignorado pelo mainstream.[nota 1]

Biografia

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Primeiros anos

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Filho de família pobre, Bezerra da Silva nasceu no Recife em 23 de fevereiro de 1927.[6] Sua mãe, Hercília Pereira da Silva, foi abandonada pelo marido, Alexandrino Bezerra da Silva, quando estava grávida do filho. Aos 15 anos de idade, depois de ser expulso da Marinha Mercante, Bezerra da Silva viajou para o Rio de Janeiro, para procurar o pai e fugir da pobreza.[2] Fez a viagem em um navio que carregava açúcar e estava apenas com a roupa do corpo.[3] Encontrou o pai, mas com mais atritos, acabou ficando sozinho.[6]

Passou a trabalhar na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra na zona central da cidade, onde exercia sua profissão.[3] Pelos idos de 1949, começou a se enamorar de uma "dona" e foi morar com ela no Morro do Cantagalo, na Zona Sul.[3]

Boemia, detenções e queda

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Começou a desenvolver a verve musical, a partir do coco de Jackson do Pandeiro, e logo ingressou na bateria do bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo, tocando tamborim.[3][7] Em 1950, conheceu Doca,[nota 2] também morador do Morro do Cantagalo, que o convidou para participar do "Programa da Rádio Clube do Brasil" como ritmista — além do tamborim, tocava surdo e instrumentos de percussão em geral.[3] Boêmio e malandro, foi detido dezenas de vezes pela polícia e acabou desempregado em 1954. Durante muitos anos viveu como morador de rua em Copacabana, quando chegou a tentar o suicídio, mas foi salvo e acolhido em um terreiro de umbanda. Lá, descobriu sua mediunidade e soube, através de uma mãe-de-santo, que o seu destino era a música.[2]

Renascimento com a música

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Convencido de que não deveria mais procurar trabalho no ramo da construção civil, reinventou sua vida como músico profissional e compositor.[nota 3]

Sob o nome artístico José Bezerra, teve as composições "Acorrentado" e "Leva teu gereré", em parceria com Jackson do Pandeiro, lançadas no primeiro álbum da carreira do paraibano, em 1959. Na primeira metade da década de 1960, ingressou na orquestra da gravadora Copacabana Discos, que acompanhava vários artistas de renome, e também teve novas composições, assinadas com outros músicos, gravadas por Jackson do Pandeiro, como "Meu veneno" (com Jackson do Pandeiro e Mergulhão), "Urubu molhado" (com Rosil Cavalcanti), "Babá" (com Mamão e Ricardo Valente), "Criando cobra" (com Big Ben e Odelandes Rodrigues) e "Preguiçoso" (com Jackson do Pandeiro). Em 1965, a cantora Marlene gravou "Nunca mais", uma parceria de Bezerra com Norival Reis.

Em 1967, compôs seu primeiro samba, chamado "Verdadeiro amor", que foi gravado por Jackson do Pandeiro naquele ano.

Primeiros discos

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No final daquela década, mudou o nome artístico para Bezerra da Silva e, em 1969, gravou um compacto simples pela Copacabana Discos, com as músicas "Mana, cadê meu boi?" e "Viola testemunha".[7]

Seu primeiro LP,"Bezerra da Silva - O Rei do Coco Volume 1", seria apenas lançado em 1975, pela gravadora Tapecar, e teve como destaque a canção "O rei do coco". No ano seguinte, pela mesma gravadora, lançou "Bezerra da Silva - O Rei do Coco Volume 2", cujo maior destaque foi "Cara de boi".[7]

A partir da série Partido Alto Nota 10 começou a encontrar o público. O repertório dos discos passou a ser abastecido por autores anônimos (alguns usando codinomes para preservar a clandestinidade) e Bezerra. Antes do Hip Hop brasileiro, ele passou a mostrar a sua realidade em músicas como: "Malandragem Dá um Tempo", "Sequestraram Minha Sogra", "Defunto Caguete", "Bicho Feroz", "Overdose de Cocada", "Malandro Não Vacila", "Meu Pirão Primeiro", "Lugar Macabro", "Piranha", "Pai Véio 171", "Candidato Caô Caô". Em 1995 gravou pela gravadora CID "Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró: Os Três Malandros In Concert", uma paródia ao show dos três tenores, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras.

Anos finais

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Em 2001 tornou-se evangélico neopentecostal da Igreja Universal do Reino de Deus.[8] Em 2005, perto da morte, mas ainda demonstrando plena atividade, participou de composições com Planet Hemp, O Rappa e outros nomes de prestígio da Música Popular Brasileira.

Em setembro de 2004, foi internado em uma clínica privada do Rio de Janeiro com pneumonia e enfisema pulmonar e chegou a ficar por quase uma semana em coma.[9] Um mês depois, o sambista passou mal novamente. Foi levado ao Hospital dos Servidores do Estado, onde foi internado com problemas pulmonares e faleceu em 17 de janeiro de 2005, aos 77 anos.[10][11][12]

Ainda naquele ano, teve lançado postumamente seu disco evangélico Caminho de Luz[10][12]

Vida pessoal

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Foi casado com Regina de Oliveira, que também foi sua empresária e uma de suas compositoras, sob o pseudônimo de Regina do Bezerra.[11]

Antes de se tornar neopentecostal ao final da vida, Bezerra foi ligado à umbanda e assíduo frequentador do terreiro do Pai Nilo, em Belford Roxo.[3]

Um de seus filhos, Ytallo Bezerra da Silva, também seguiu a carreira de músico.[13]

Legado

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O sambista pernambucano foi tema do livro "Bezerra da Silva - Produto do Morro", de Letícia Vianna, lançado em 1998.[14]

O rapper Marcelo D2 lhe prestou homenagem quando lançou em 2010, pela gravadora EMI, o álbum "Marcelo D2 canta Bezerra da Silva", no qual perfilou parte da obra interpretada pelo sambista.[15]

Em 2012, foi lançado o documentário "Onde a coruja dorme", de Márcia Derraik e Simplício Neto, que destaca os compositores de suas músicas, trabalhadores anônimos, que abordavam em suas letras temas da realidade brasileira como o malandro, o otário, o alcaguete, a maconha. O filme teve origem no curta-metragem homônimo, lançado onze anos antes.[16]

Outro legado é o incontestável e único estilo do típico malandro carioca com seu boné brad brim estampado até hoje inspira muitos admirados em rodas de samba.[17]

Temática

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Os principais temas de suas canções foram a vida do povo e os problemas da sociedade e das favelas, como a exploração e a opressão sofridas pelos trabalhadores, a malandragem e ladrões à margem da lei, a questão do uso de drogas como a maconha e a condenação à caguetagem (delação de companheiros).[18] "Essas músicas que eu canto são de compositores que são servente de pedreiro, camelô, outro tá desempregado, outro limpa o carro da madame e a mulher é a cozinheira."[19]

Discografia

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Notas

  1. Uma prova disso é que ele só tocou no Canecão, uma das mais tradicionais casa de espetáculos do país, em 1996, depois de duas décadas de uma carreira de consecutivos sucessos.[5]
  2. José Alcides, ou Doca, é mais conhecido por um dos autores da música "General da banda" (ao lado de Tancredo Silva e Sátiro de Melo)
  3. Como ele próprio explica, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do "medo da fome". Diz também que a única saída que tinha era "lutar por dias melhores", pois "tinha dias que trabalhava e não comia". Não se cansa de afirmar que saiu da construção civil porque achava que algum dia iria "virar uma escada, um tijolo, um saco de cimento".[3]

Referências

  1. Vianna, Letícia C. R. (1999). Bezerra da Silva, produto do morro: trajetória e obra de um sambista que não é santo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. OCLC 44641138 
  2. a b c «Notícias - NOTÍCIAS - Ao mestre, com carinho: Marcelo D2 canta Bezerra da Silva». revistaepoca.globo.com. Consultado em 21 de janeiro de 2023 
  3. a b c d e f g h i «Música - música popular do Brasil». almanaque.folha.uol.com.br. Consultado em 21 de janeiro de 2023 
  4. «Quem - NOTÍCIAS - Morre aos 77 anos o compositor Bezerra da Silva». Revista Quem. Consultado em 21 de janeiro de 2023 
  5. Biografia: Bezerra da Silva - Almanaque da Folha de S.Paulo, sem data
  6. a b Soares, Gabriel Fernando Lima. «Manoel Brigadeiro: o rei do samba: caminhos do pós-abolição na trajetória de um sambista negro do Rio de Janeiro no Distrito Federal (1922-2015)». Consultado em 21 de janeiro de 2023 
  7. a b c Dados Artísticos: Bezerra da Silva - Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, sem data
  8. Compositor Bezerra da Silva oficializa sua conversão à Igreja Universal - Folha, 19 de março de 2002
  9. Bezerra da Silva morre aos 77 anos no Rio de Janeiro - UOL, 17 de janeiro de 2005
  10. a b Bezerra da Silva morre aos 77 anos no Rio - Folha.com, 17 de janeiro de 2005
  11. a b Velório de Bezerra reúne músicos - Folha de S.Paulo, 18 de janeiro de 2005
  12. a b Matos, Cláudia Neiva de (2011). Bezerra da Silva, singular e plural (PDF). Juiz de Fora: Ipotesi. pp. 99–114 
  13. Biografia: Bezerra da Silva - Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, sem data
  14. Batista, Marilda (2001). «[Resenha da obra Bezerra da Silva : produto do morro : trajetória e obra de um sambista que não é santo de autoria de Leticia C.R. Vianna]» 
  15. «Folha de S.Paulo - Marcelo D2 expõe semelhanças com Bezerra da Silva - 24/09/2010». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 19 de novembro de 2019 
  16. Coruja - Portal Curtas, sem data
  17. Ramos, Marcos. «90 anos do embaixador do morro (sobre Bezerra da Silva)» (em inglês) 
  18. Ópera do malandro
  19. O Pasquim, Volume 17,Parte 1,Edições 810-833, página 243

Ligações externas

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