João Carlos's Reviews > A Catedral do Mar

A Catedral do Mar by Ildefonso Falcones
Rate this book
Clear rating

by
17544299
's review

it was amazing
bookshelves: l2017, m500pag, favorites, doacaoabtnovembro2018


Igreja de Santa María del Mar - Barcelona


”A Catedral do Mar” (2006) primeiro romance do escritor catalão Ildefonso Falcones (n. 1959) tem uma cena de abertura que deixa antever o contexto histórico da narrativa: Bernat Estanyol está a festejar o seu casamento com Francesca Esteve; inesperadamente, eis que se aproximam da celebração, sem serem convidados, o seu senhor feudal e dois ginetes.
”- Estanyol! – gritou Llorenç de Bellera, pondo-se de pé com Francesca agarrada pelo pulso. – Usando do direito que como teu senhor me assiste, decidi deitar-me com a tua mulher na sua primeira noite.” (Pág. 19)
Passados nove meses Francesca dá à luz um rapaz; apesar da violação sofrida no dia do seu casamento, o bebé revela uma marca que todos os Estanyol têm – “um sinal junto à sobrancelha direita”.
Mais tarde, num contexto trágico Bernat decide fugir – para Barcelona - com o seu filho Arnau sob o desígnio de se tornar um homem livre e de escapar às atitudes cruéis e bárbaras do seu senhor feudal e da nobreza.
Nesta época medieval – século XIV - Barcelona é uma cidade próspera que concede aos seus cidadãos direitos especiais de cidadania – Bernat e Arnau – começam uma vida “nova”.
A imagem da Virgem Maria e a construção da Igreja de Santa Maria del Mar acabam por exercer em Arnau uma influência espiritual incomensurável, com Ildefonso Falcones a desenvolver e unir a edificação da catedral – construída pelo povo, pelos bastaixos - às inúmeras personagens, homens, mulheres e crianças, numa excepcional recriação histórica.
”A Catedral do Mar” é um magnífico romance – explanado entre 1320 e 1384 - que mantém um notável equilíbrio entre a componente histórica e a trama narrativa (existem várias sub-tramas), com uma escrita inteligente e cinematográfica, preservando o ritmo e a intriga; incorporando um suspense que vai enleando o leitor, no intuito de que acompanhando as personagens principais temos uma perspectiva minuciosa sobre inúmeras temáticas como: o amor e a traição, a guerra e as pestes, numa Catalunha marcada pela intolerância religiosa, pela Inquisição e pelas injustiças sociais e religiosas; mas, igualmente, sobre a primazia do genuíno carácter heróico dos servos em relação à prepotência da nobreza.

Nota: A continuação de ”A Catedral do Mar” intitula-se ”Los Herederos de la Tierra" - uma obra publicada em 2016, ainda sem edição portuguesa.


Update 1


Igreja de Santa María del Mar - Barcelona


Há alguns anos que não lia nenhum romance histórico ambientado entre os séc. XII e XIV – penso que o último foi “Os Pilares da Terra” (mas não tenho a certeza).
Este género de romances – nos quais se inclui este ”A Catedral do Mar” - têm a vantagem de ser dois em um. Isto é, como são excepcionalmente descritivos, visual e cinematograficamente, que ao lê-los estamos indirectamente a “adquirir” um bilhete de cinema em écran cinemascope.
Só que têm um amplo problema (pelo menos para mim) - deixam pouca margem para a minha imaginação (gosto mais de "fazer" filmes do que "ver" filmes) e mais margem para pensamento sociológico (pode não parecer mas de tempo em tempos sempre exercito os meus neurónios).
Numa cena em que a personagem principal (pelo menos até ao momento) Bernat Estanyol está a casar com Francesca - aparece intempestivamente, sem ser convidado, um senhor feudal e pouco depois, surge a seguinte frase:
”- Estanyol! – gritou Llorenç de Bellera, pondo-se de pé com Francesca agarrada pelo pulso. – Usando do direito que como teu senhor me assiste, decidi deitar-me com a tua mulher na sua primeira noite.”(Pág. 19)

Numa perspectiva simplista, mais do que a evolução tecnológica e económica nessa época e nas seguintes, foi a evolução dos comportamentos e das atitudes entre homens de diferentes classes sociais e entre homens e mulheres que permitiu, apesar de tudo e, por vezes, de uma forma lenta que o nosso desenvolvimento civilizacional, não sendo perfeito, é incomensuravelmente melhor do que o existente entre os séc. XII e XIV…
78 likes · flag

Sign into Goodreads to see if any of your friends have read A Catedral do Mar.
Sign In »

Reading Progress

March 6, 2013 – Shelved
May 16, 2017 – Started Reading
May 17, 2017 –
page 56
9.82% "
Bernat (Daniel Grao) e o seu filho Arnau


Já tinha saudade de ler um romance histórico ambientado ao séc. XIV...
Quando me queixo das "arrelias" e dos "probleminhas" do dia-a-dia por viver no séc. XXI - penso, C´um Caraças, ainda bem que não nasci em 1320..."
May 17, 2017 –
page 103
18.07% "
As dez colunas da Igreja de Santa María del Mar.


Agora só falta comprar o bilhete de avião para Barcelona..."
May 18, 2017 – Shelved as: l2017
May 18, 2017 – Shelved as: m500pag
May 19, 2017 –
page 211
37.02% "
Igreja de Santa María del Mar - Barcelona

O fim-de-semana aproxima-se...

Opção: Dar um pouco de descanso ao jovem Arnau, que se tornou num bastaixos...

Alternativa: dedicar-me a ler Manual Para Mulheres de Limpeza que me parece mais adequado ou apropriado ou pertinente ou propício ou... ou..."
May 19, 2017 –
page 211
37.02% "- As mulheres são maliciosas por natureza e satisfazem-se a tentar o homem para os caminhos do mal - (...).
- Porquê?
- Ora, porque as mulheres são como ar em movimento, vaporosas. Não param de ir de um lado para o outro como se fossem correntes de ar (...) Em segundo lugar, porque as mulheres, por natureza, por criação, têm pouco senso comum e, em consequência disso, não existe freio para a sua malícia natural."
May 20, 2017 –
page 436
76.49% "
Homenagem aos bastaixos que ajudaram a construir a Igreja de Santa María del Mar - Barcelona"
May 20, 2017 – Finished Reading
July 24, 2017 – Shelved as: favorites
November 26, 2018 – Shelved as: doacaoabtnovembro2018

Comments Showing 1-8 of 8 (8 new)

dateDown arrow    newest »

message 1: by Vasco (new)

Vasco Simões Tenho o meu exemplar em castelhano na prateleira à anos na lista de espera a ganhar pó. Tenho de me lançar a ele.


Evalunasylva Também adorei este!


David Loved the cathedral, almost ordered the book but now I will after your fine review.


message 4: by Nelson (new) - added it

Nelson Zagalo João, é preciso ter em atenção que esta coisa do "Direito de Primeira Noite" é um mito, não é algo real. Isso deu grande discussão quando saiu o filme “Braveheart”, também ambientado por esta altura, mas na Escócia, em que este direito também surge numa cena. Sendo um mito bárbaro, acabou por ter pernas para andar e continua a ser propagado em diferentes obras.

É fácil de compreender porque isto não faria muito sentido. Se já se tinha instituído o contrato de casamento, qual era o sentido de o quebrar na primeira noite? Além de que isso até poderia funcionar com alguns, mas na grande maioria dos casos, isso acabaria por trazer vingança servida bem fria. E não esquecer que até muito poucos anos a justiça aceitava como defesa os crimes de paixão.


João Carlos Vasco wrote: "Tenho o meu exemplar em castelhano na prateleira à anos na lista de espera a ganhar pó. Tenho de me lançar a ele."

Tens andado desaparecido...
Pudera - 4 3 2 1 - és um homem de coragem...
O livro é muito bom - tinha como referência "Os Pilares da Terra" - gostei mais deste.
A componente histórica por vezes é "demasiado" erudita, sobretudo, quando o Ildefonso Falcones a introduz nos diálogos das várias personagens - mas, caramba, são 600 páginas.
Motivou-me a visitar, novamente, Barcelona e a Igreja de Santa María del Mar...


João Carlos Evalunasylva wrote: "Também adorei este!"

Já tinha saudade de ler um excelente romance histórico do séc. XIV...


João Carlos David wrote: "Loved the cathedral, almost ordered the book but now I will after your fine review."

I agree...
I want to visit Barcelona again and Igreja de Santa María del Mar...


message 8: by João Carlos (last edited May 23, 2017 02:34PM) (new) - rated it 5 stars

João Carlos Nelson wrote: "João, é preciso ter em atenção que esta coisa do "Direito de Primeira Noite" é um mito, não é algo real. Isso deu grande discussão quando saiu o filme “Braveheart”, também ambientado por esta altur..."

É uma temática polémica e que não se encontra totalmente comprovada e documentada.
Penso que o Ildefonso Falcones realizou uma investigação histórica detalhada e introduziu o "tema" com algum propósito ou finalidade - que sempre pode ser o de "chocar" o leitor ou enquadrar a narrativa nas atitudes e nos comportamentos bárbaros, mas que eram aceitáveis na sociedade feudal.
No caso específico, não há informação de que o casamento de Bernat com Francesca tenha sido comunicado ao seu senhor feudal. Nem há celebração religiosa.
Ao longo do romance há episódios "macabros" referentes à possibilidade de que existindo adultério feminino o homem ter a possibilidade de "fazer" justiça pela próprias mãos, consoante o que o senhor feudal considerar adequado, em função do suposto "crime".


back to top