Redemoinho em dia quente Quotes

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Redemoinho em dia quente Redemoinho em dia quente by Jarid Arraes
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“Tudo o que queria era que os olhares se demorassem mais nos cordéis, naqueles pequenos folhetos grampeados com tanto cuidado e que guardavam o trabalho dedicado de suas palavras. De tudo o que queria dizer sobre todas as coisas da existência. Sobre amor, sobre morte. Histórias inventadas pelas madrugadas, quando não segurava a diligência do dinheiro e não conseguia dormir. Histórias inventadas enquanto trabalhava, desligando a realidade dos arredores e acendendo a vela de personagens muito mais fortes que ela mesma. Suas histórias metrificadas e rimadas cabiam naqueles folhetos coloridos. Eram lindas. Queria compartilhar com aquele povo todo, se seus olhares deitassem mais tempo no chão. Algumas pessoas diminuíam a velocidade dos passos, dividiam os segundos rápidos de pensamento entre os folhetos e a vendedora, que era também a poeta, mas nunca demoravam o suficiente para ler os títulos.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Mamãe gosta de repetir que eu nunca fui uma menina fácil. Dá muita ênfase ao “menina”, porque jamais usaria a palavra “criança”. Uma criança é normal, mas uma menina é pavorosa. Uma menina que suja o vestido branco, larga os sapatos de couro pelo sítio. Eu nunca fui a menina que mamãe desejou, a senhora sabe. Mas com o tempo aprendemos a nos aceitar. Eu também aprendi a abraçá-la com suas futilidades infinitas.
É mais fácil ser adulta, tia, porque deixamos que todas as coisas se enfiem por debaixo. Damos novas regras à brincadeira de esconde-esconde; quando estamos mais velhos, tudo o que queremos é que as verdades, os defeitos insuportáveis, o que os outros não foram capazes de ser, tudo isso encontre o lugar da casa que é menos visível, menos frequentado. Que lá fique, habite e pouco seja alimentado.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Não tenho muitas palavras. Estou procurando pelas crianças que se esconderam nos cômodos pouco habitados da casa.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Se por um só segundo eu acreditasse, poderia crer, por um só segundo, que minha missão é teimar. Teimar de todas as formas possíveis, dentro de todas as variedades, teimar e insistir, contrariar e contradizer”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Eu quero me despedir, porque meu coração ama.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Animais todos somos, isso é lei da ciência, ou coisa de nome parecido, mas também somos muito mais. Nenhum animal quebra a coluna e transforma os ossos em cimento para que sinta melhor, caminhe melhor, deite melhor. Os animais vivem como são nascidos e, caso sobrevivam, comemoram. Ou nem disso sabem. Nós sabemos e levamos nos olhos muitos milhares de litros de água escura, turvada pelas histórias.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Senti muita paz e escutei a beleza que o fogo me contava. Senti arrependimento porque não ouvi antes o seu chamado. Pedi perdão à fogueira porque não tinha vindo nos outros anos. É que eu estava confusa, é que eu precisava estar só, é que as pessoas são difíceis, é que nem sempre quero estar. Eu senti que o fogo me compreendia. Se alguém na vida me compreendia, esse alguém era o fogo.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“Hoje percebo que se apegar ao seu eu destruído é mais comum do que os outros pensam. A maioria das pessoas, quando consegue desenvolver alguma empatia pelos loucos, imagina que mentes doentes desejam a cura absoluta, a felicidade, os sorrisos aos domingos e a vida comum de quem constrói uma sociedade produtiva. Pois o verdadeiro desafio em aceitar e amar os loucos está em enxergá-los amantes da vontade de ver tudo pegar fogo.
E eu sempre fui incendiária.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente
“O que eu sei, sem dúvida alguma, é que os cachorros de quintal gritavam fino e provavelmente guardavam aquela mágoa, aquela tristeza, até o dia que morriam. Talvez se lembrassem de quando chegaram e receberam seus nomes, acreditando que aquilo era uma identidade, um contrato de cuidado e companhia.

Um nome que viria com um sobrenome-teto, sobrenome-sala, sobrenome-convivência.”
Jarid Arraes, Redemoinho em dia quente